A bomba colocada por militantes terroristas explodiu a poucos metros de distância de onde se encontrava Arlene Francisco, uma cristã que vive na cidade de Marawi e que no domingo, 3 de Dezembro, estava a assistir à celebração da primeira Missa do Advento no ginásio da Universidade estatal de Mindanao, onde trabalha como secretária do capelão e da comunidade católica. Por sorte, ficou ilesa. Mas viu os corpos dos quatro cristãos que morreram. Numa mensagem para a Fundação AIS, Arlene diz que, desde então, mal consegue dormir.
“Vi uma grande faísca e depois um ‘boom’, tudo aconteceu do meu lado direito, a três ou quatro metros de onde estava sentada.” Arlene Francisco, 48 anos, secretária do capelão e da comunidade católica universitária, recorda assim o que aconteceu no domingo, 3 de Dezembro, quando uma bomba deflagrou no ginásio da Universidade estatal de Mindanao, na cidade de Marawi, poucos minutos antes de ter começado a primeira Missa do Advento.
Por sorte, Arlene escapou ilesa à explosão, tal como os seus 3 filhos, que, como acólitos, estavam na altura junto ao altar, mas algumas das pessoas que estavam perto de si não sobreviveram. O atentado terrorista, prontamente reivindicado pelo Daesh, o auto-proclamado Estado Islâmico, causaria quatro mortos e mais de cinquenta feridos, alguns em estado considerado grave. Numa breve mensagem enviada para a Fundação AIS, em Lisboa, Arlene explica como tudo se passou.
A Missa tinha começado passavam apenas cinco minutos das sete horas da manhã. Os fiéis preparavam-se para escutar a primeira leitura quando se deu a explosão.
Todos ficaram em choque. Vi 4 corpos caídos no chão, um estava completamente queimado, meu Deus… outra pessoa tinha metade do corpo queimado também e havia partes de pernas espalhadas… Foi realmente chocante.”
Arlene Francisco
Arlene sobreviveu ao atentado, mas, desde então, não consegue esquecer o que viu, os gritos que escutou, a tragédia que se abateu uma vez mais sobre a pequena comunidade cristã em Marawi.
Na curta mensagem, a secretária do capelão explica ainda que foi logo organizada localmente uma estrutura de apoio psicossocial e espiritual para as pessoas que de alguma forma foram mais atingidas pelo atentado e houve entretanto diversos momentos de oração. “O nosso Bispo, D. Edwin de la Peña, arcebispo de Cagayan de Oro, e alguns membros católicos participaram nessas orações de solidariedade para com todas as vítimas… A partir de agora – escreve ainda Arlene – estamos a tentar seguir em frente, na esperança de que nenhum atentado aconteça novamente no futuro…”
Arlene Francisco confessa também que ela própria não está bem e pede as nossas orações. “Desde então, até agora, não consigo dormir bem e praticamente não consigo comer… por favor rezem por nós…”
RASTOS DE INQUIETAÇÃO
O atentado deixou um rasto de inquietação na comunidade cristã local. Ao telefone, desde as Filipinas, ainda no domingo, dia 3, o padre Sebastiano D’Ambra expressava à Fundação AIS Internacional a sua consternação por este ataque terrorista na Universidade. O missionário do Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras (PIME) não teve dúvidas em afirmar que se tratou de um ataque com um alvo bem determinado: os cristãos.
“Não há dúvida de que os cristãos foram o alvo”, disse o missionário italiano. E acrescentou: “O que aconteceu em Marawi é alarmante. Há o perigo de o ataque provocar o êxodo da minoria católica. Muitas famílias já pediram aos seus filhos que regressassem à sua terra natal por causa do medo que os cristãos estão a sentir”.
A escolha do local para o atentado terrorista também não foi um acaso. Para o padre Sebastiano D’Ambra, houve a clara intenção de se atingir um grande número de pessoas.
A universidade, explicou ainda o sacerdote, “tem uma capelania com um espaço para a Missa diária”. “Aos domingos, celebram no ginásio, porque a capela não é suficientemente grande. Não sei quantas pessoas estiveram lá, mas é frequente haver entre 300 e 400 católicos aos domingos. Sendo este o primeiro domingo do Advento, tenho a certeza de que estavam presentes muitos fiéis.”
Com quase 40 anos de experiência nas Filipinas, o Padre D’Ambra é o fundador do movimento Silsilah, que promove desde 1984 o diálogo inter-religioso e a coexistência entre católicos e muçulmanos. A Fundação AIS é parceira deste projeto desde o seu início.
Episódios como este em Marawi só pioram uma situação já complicada e tornam mais difícil a promoção do diálogo inter-religioso. São novos desafios e tornam o nosso trabalho, que está a chegar aos 40 anos, tão importante agora como era no início”
Padre Sebastiano D’Ambra
“ATINGIRAM-NOS NO CORAÇAO…”
As palavras de preocupação do padre Sebastiano D’Ambra têm razão de ser. É que, se nas Filipinas a esmagadora maioria da população, cerca de 90 por cento, é católica, ali, na Ilha de Mindanao, ao sul do país, predomina a comunidade muçulmana e os cristãos estão em minoria.
A Prelazia territorial de Marawi, a capital da província de Lanao del Sul, em Mindanao, onde ocorreu o atentado, tem apenas cerca de 40 mil fiéis. Todos eles têm sido testemunhas, ao longo dos últimos anos, da presença de grupos armados, terroristas, que desafiam as autoridades procurando a autonomia do território. O Bispo D. Edwin de la Peña, responsável pela Prelazia de Marawi, falou também do medo que se sente agora entre a comunidade cristã.
“Eles atingiram-nos no coração, ou seja, durante a Eucaristia, o momento mais alto da nossa fé. Há tanto medo agora, mas a fé acompanha-nos e sustenta-nos. Também neste momento de tribulação, sentimos a presença do Senhor”, afirmou, em declarações à agência Fides. Se os terroristas não escolheram ao acaso o local onde fizeram explodir a bomba, também não foi fortuito o momento escolhido.
“Este ataque – disse ainda o prelado – veio perturbar a Semana da Paz de Mindanao, uma semana em que, em toda a ilha, se celebrava e testemunhava o desejo de paz com manifestações públicas, encontros de diálogo, orações. Agora, é claro que as pessoas estão com medo, mas nossa vida de fé vai em frente. Fomos atingidos durante o tempo do Advento e contamos de modo especial com a Virgem Maria.”
Em Mindanao, nas Filipinas, a comunidade cristã sabe, por experiência própria, o que são as ameaças, a violência, o terror. As próximas semanas, os próximos dias até ao Natal vão ser um tempo de inquietação. Ninguém sabe se vai ou não acontecer um novo atentado. Também por isso, ganham força as palavras de Arlene Francisco: “por favor, rezem por nós!”
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt