A Fundação AIS em Espanha vai atribuir o prémio Liberdade Religiosa 2023 aos dois seminaristas nigerianos que sobreviveram a um dramático sequestro em Kaduna no início do ano de 2020. Um sequestro que terminaria de forma dramática com o assassinato de Michael Nnadi, o mais jovem do grupo, com apenas 18 anos de idade.
Stephen Amos e Pius Tabat vão receber a 5 de Outubro, em Madrid, o prémio Liberdade Religiosa instituído pelo secretariado local da Fundação AIS. Ambos foram raptados, juntamente com Michael Nnadi e mais um companheiro, no seminário do Bom Pastor, na Diocese de Kaduna, a 8 de Janeiro de 2020.
O estado de saúde débil desse quarto companheiro, Peter Umenukor, valeu-lhe a libertação precoce. Mas Amos, Tabat e Nnadi ficariam reféns dos sequestradores, tendo passado por momentos muito duros, sendo chicoteados quando os obrigavam a telefonar para as famílias pagarem o resgate. Foram dias terríveis que acabariam de foram dramática para Michael Nnadi, que seria assassinado a tiro pelo líder do gangue.
Quase quatro anos depois, Kanwai Pius Tabat e Stephen Amos vão ser homenageados em Espanha num evento que procura ser também um alerta para a situação de falta de liberdade religiosa em muitos países do mundo.
Campanha de alerta
De facto, a liberdade de culto, considerada como um direito fundamental do ser humano, não existe ou está em risco em cerca de um terço de todos os países do mundo.
Esta situação afecta sobremaneira a comunidade cristã, que é a mais perseguida. Calcula-se que mais de 570 milhões de cristãos vivem em países onde a liberdade religiosa é violada. No entanto, apesar da grandeza destes números, a verdade é que a sociedade parece ignorar esta realidade.
Perante isto, o secretariado espanhol da Fundação AIS lançou uma campanha, “Tens o direito de Acreditar”, em que se procura sensibilizar a opinião pública para a necessidade de se ter presente a importância da defesa da liberdade religiosa. “Temos o direito de acreditar em Deus em liberdade, sem imposições, sem discriminação, sem perseguições, mas mais de metade da população mundial sofre ataques injustos à sua liberdade religiosa”, disse Raquel Martín, directora de comunicação do secretariado espanhol da Fundação AIS na apresentação desta campanha na passada segunda-feira, dia 25.
Direito inegociável
No evento participou também um sacerdote oriundo da Índia, precisamente um dos países onde a comunidade cristã mais tem sido perseguida, e um responsável pelo departamento jurídico da Comissão das Conferências Episcopais da União Europeia.
Este responsável, José Luis Bazán, defendeu que a liberdade religiosa “é um direito inegociável, porque é a base das sociedades livres”, e é sobre este direito que se “cria um espaço de liberdade social para todos”. “Esta não é uma liberdade abstrata, mas um direito que deve ser aplicado e respeitado em todos os níveis e áreas, na educação, trabalho, no mundo laboral e na saúde”, acrescentou.
Por sua vez, o padre Sebastián Jacob, oriundo da região de Kerala, na Índia, explicou que a comunidade cristã no seu país vive tempos muito duros de perseguição, “apesar de a Constituição proteger o direito de professar a própria fé”. O sacerdote recordou alguns dos ataques que os cristãos sofreram nos últimos anos e alertou para o facto de, apenas do primeiro semestre deste ano, já terem sido relatados “mais de 400 casos de perseguição em 23 dos 28 estados da Índia”. Isto explica, disse ainda, a razão pela qual a Índia surge “na lista dos países do mundo onde os cristãos são mais perseguidos”.
O lançamento formal da campanha e a entrega do prémio aos dois seminaristas – prémio que vai já na oitava edição –, vai ocorrer no dia 5 de Outubro, na Fundação Paulo VI, em Madrid.
Paulo Aido | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt