CHINA: “Gostei de ouvir” o novo Bispo de Hong Kong dizer que “não tem medo…”, comenta antigo superior dos jesuítas de Macau

CHINA: “Gostei de ouvir” o novo Bispo de Hong Kong dizer que “não tem medo…”, comenta antigo superior dos jesuítas de Macau

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CHINA: “Gostei de ouvir” o novo Bispo de Hong Kong dizer que “não tem medo…”, comenta antigo superior dos jesuítas de Macau

Segunda-feira · 24 Maio, 2021

Saber ouvir, aprender com os outros, ser construtor de pontes e não ter medo. Estas foram algumas das palavras de D. Stephen Chow, o novo Bispo de Hong Kong na sua primeira intervenção pública, que o Padre Luís Sequeira, o mais antigo sacerdote português a residir em Macau destacou para a Fundação AIS.

Numa Conferência de Imprensa a 18 de Maio, D. Stephan Chow, nomeado pelo Papa Francisco para liderar a importante diocese de Hong Kong, na China, enumerou alguns dos princípios fundamentais com que irá nortear a sua missão, como o da defesa da liberdade religiosa e a importância do diálogo com Pequim. “Para mim, a liberdade religiosa é um direito básico”, exclamou, tendo afirmado ainda que, com “Pequim”, deve haver o “senso de não presumir que eles sejam inimigos e, então, ver como podemos, através da nossa fé, começar a ter algum diálogo e algum entendimento mútuo”. Estas foram algumas das palavras que o Padre Luís Sequeira, figura incontornável da vida cultural e religiosa de Macau – a outra diocese “especial” da China – diz que gostou de ouvir. Durante anos superior dos jesuítas neste território de língua oficial portuguesa, o Padre Sequeira aceitou analisar para a Fundação AIS os grandes desafios que se colocam agora a D. Stephan Chow.

CHINA: “Gostei de ouvir” o novo Bispo de Hong Kong dizer que “não tem medo…”, comenta antigo superior dos jesuítas de Macau
Saber ouvir, aprender com os outros, ser construtor de pontes e não ter medo.

“Construtor de pontes”
“Gostei de ouvir as suas palavras, na conferência de imprensa realizada pouco depois de a sua nomeação ter sido tornada pública. Não entrou nas problemáticas sérias e complexas que estão subjacentes à sua Missão e que muitos, sobretudo jornalistas, estariam à espera…” E entre as palavras que o Padre Luís Sequeira mais apreciou estão as que se referem ao diálogo, ao relacionamento, à construção de pontes. D. Stephen Chow vincou, diz o padre português à Fundação AIS, “com insistência, ‘o ouvir e escutar os outros’…’relacionar-se e colaborar com os outros’… ‘aprender com todos’… e, finalmente, …’ser construtor de pontes’… Também ouvi-o exclamar: ‘Não tenho medo… a Missão pertence a Deus…”

O grande desafio
Tanto Macau como Hong Kong são duas dioceses especiais no contexto da China. Ambos os territórios foram colónias europeias. Macau esteve sob administração portuguesa até 20 de Dezembro de 1999, enquanto Hong Kong permaneceu domínio britânico até 1997. Em ambos os casos foi assinada uma “declaração conjunta” com as autoridades chinesas para a salvaguarda dos direitos fundamentais das populações locais durante um período de cinquenta anos. Nos últimos tempos, porém, Hong Kong foi palco de várias manifestações em favor de uma maior participação das populações na vida pública do território, com exigências de mais democracia e menos ingerência de Pequim na vida local, manifestações que mereceram uma resposta musculada por parte das autoridades. Perante este cenário, o Padre Luís Sequeira considera que a comunidade católica tem um papel importante a desempenhar e que são vários os desafios que se colocam ao novo bispo. “O seu grande desafio, no meu entender, está, antes de mais, no ter sido chamado a exercer o seu Ministério Episcopal, ser Líder da Comunidade Católica, em Hong Kong, no contexto sócio-político da Região Administrativa Especial de Hong Kong em que se afirma que a existência de todos os seus habitantes deve ser pautada pelo princípio ‘Um País, Dois Sistemas’, e a ser vivido até 2047… Realidade esta que deixa ainda uma outra questão, também ela muito delicada e séria, de como viverá a Igreja Católica para além de 2047…?”

“Uma tensão evidente e explosiva…”
As manifestações de protesto encheram as ruas de Hong Kong especialmente em 2019, no que terá sido a situação mais complexa desde a passagem de soberania em 1997. Milhares de pessoas exigiram reformas democráticas e, em resposta, as autoridades chinesas impuseram uma lei de segurança nacional que permite punir actividades subversivas, a tentativa de secessão do território e o conluio com forças estrangeiras. Em resultado, houve centenas de prisões. Já este ano, em Abril, um tribunal de Hong Kong condenou nove activistas por terem organizado e participado numa dessas manifestações. Entre os réus estão ex-deputados e também o magnata da comunicação social local, Jimmy Lai, fundador do jornal ‘Apple Daily’, muito crítico do governo. O Padre Sequeira lembra que o princípio ‘um país, dois sistemas’, formulado “com algo de génio” por Deng Xiaoping, comporta, “implícito dentro de si, quer queiramos quer não, uma tensão dialéctica, que, agora, 25 anos depois da sua proclamação, se torna evidente e explosiva…” E conduz a muitas perguntas também. Algumas de difícil resposta. “Na prática, como que somos levados a perguntar como é possível, num mesmo país, e um país que apela vigorosamente ao patriotismo, existir, por um lado, uma ideologia marxista, sustentada por um regime comunista e, por outro, uma ideologia capitalista, expressa por um regime dito democrático? Este é e será um diálogo difícil e penoso a ter de ser feito… Desde as multidões em manifestação pacífica até aos tumultos violentos e destruidores dos últimos dois anos são disso uma prova.”

Padre Luís, amigo de Madre Teresa
E é neste contexto em que há um sentimento de revolta e uma resposta musculada por parte das autoridades chinesas que o Papa Francisco escolheu o jesuíta Stephen Chow para Bispo de Hong Kong. O futuro é sempre uma incógnita. A comunidade católica da antiga colónia britânica terá seguramente um papel a desempenhar nos anos vindouros. Diz o Padre Luís Sequeira – que vive em Macau há mais de quarenta anos, e que foi um grande amigo de Madre Teresa de Calcutá –, que “a Comunidade Católica de Hong Kong, hoje com cerca de 350 mil baptizados, é chamada a dar um testemunho de Esperança e a trabalhar para a construção de uma sociedade mais justa e solidária, aberta aos grandes valores da Humanidade e, acima de tudo, livre de crer em Deus, revelado em Jesus Cristo.” Neste depoimento para a Fundação AIS, o antigo superior dos Jesuítas em Macau considera que D. Stephen Chow é chamado “a liderar com coragem, prudência mas, acima de tudo, com grande discernimento…” a vida da diocese de Hong Kong. Muito do que suceder neste território terá seguramente repercussões na vida da comunidade cristã em Macau e em toda a República Popular da China.

PA | Departamento de Informação da Fundação AIS | info@fundacao-ais.pt

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