Consternação e incompreensão. Foi assim que a comunidade cristã de Califórnia, uma aldeia situada entre Victoria e Curacautín, na região chilena de Araucanía, assistiu na madrugada de sábado, 4 de Março, à destruição total da sua capela de Nossa Senhora dos Raios, num incêndio causado por militantes do movimento indígena Mapuche.
“As chamas consumiram o edifício em questão de minutos, deixando a comunidade, que é maioritariamente constituída por famílias mapuches, sem um local de culto para as suas actividades”, explica Magdalena Lira, directora do secretariado chileno da Fundação AIS. “A pequena capela tinha sido construída em 1952 pelo mesmo grupo de pessoas que agora a viram ser destruída, daí a dor que sentiram ao vê-la arder até ao chão”, acrescentou Lira. O incêndio foi de tal forma que, dos escombros, “já pouco resta a identificá-lo como edifício religioso”, disse ainda a responsável da Ajuda à Igreja que Sofre. De acordo com a Imprensa chilena, os responsáveis pelo ataque ao templo católico deixaram panfletos e um cartaz em que não só reclamam a autoria do incêndio como ameaçam com novas acções violentas. “Cada bala que dispararem será devolvida”, pode ler-se no cartaz que s atacantes deixaram no local. A mensagem está assinada com as iniciais RMM, que significam Resistência Malleco Mapuche, um grupo guerrilheiro que reclama a defesa dos direitos deste povo indígena.
Longa série de ataques
O incêndio deixou consternada a comunidade católica local, que ficou agora sem lugar de culto. Da capela de Nossa Senhora dos Raios nada sobrou com excepção de uma pequena imagem da Virgem. Magdalena Lira fala em “pequeno milagre”. “A imagem de gesso de Maria, que durante muito tempo tinha sido conservada numa gruta situada ali próximo, foi encontrada intacta”, diz a directora do secretariado da Fundação AIS do Chile. Este incêndio criminoso é apenas o mais recente de uma longa série de ataques contra igrejas no Chile. Um desses incidentes, reportado na ocasião pela Fundação AIS, ocorreu em 10 de Novembro do ano passado. Grupos radicais, também ligados ao movimento Mapuche, incendiaram nessa madrugada uma capela dedicada a São José situada em Villa Cautín, pertencente à comunidade paroquial de São Francisco de Assis, na região de La Araucanía, no sul do Chile. A capela ficou completamente destruída e, como lamentou a diocese, num comunicado de Imprensa a que a Fundação AIS teve acesso, as chamas consumiram “mais de 60 anos de história”.
Hostilidade contra a Igreja
Além da capela foi também incendiada uma escola existente na zona e, em ambos os casos, foram encontradas bandeiras com inscrições do grupo radical Resistência Mapuche, que tem um historial de ataques não só a igrejas e escolas mas também a outros edifícios governamentais e a infraestruturas como pontes ou aeródromos.
Os mapuches exigem ao Estado chileno a restituição de terras ancestrais que pertenceram à comunidade e que estão agora nas mãos de empresas latifundiárias e florestais. Todos estes ataques, vêm recordar um conjunto de situações semelhantes ocorridas em anos recentes no Chile, e que são sinal de hostilidade para com a Igreja Católica e a comunidade cristã, e de como a liberdade religiosa está fragilizada neste país do continente americano. De facto, no mais recente Relatório sobre a Liberdade religiosa no Mundo da Fundação AIS é sublinhado que no período de 2018 a 2020 assistiu-se no Chile a um “recrudescimento dos ataques contra igrejas”. No documento refere-se que, depois de terem estado ligados “à causa mapuche” – como ocorreu agora no ataque de 4 de Março –, a violência e o vandalismo contra as igrejas são “um sintoma de intolerância à religião e um sinal de que o Estado foi incapaz de a proteger”. O Relatório recorda ainda que cerca de 60 igrejas e templos cristãos foram vandalizados no Chile desde Outubro de 2019 até à data de publicação, ou seja, Abril de 2021.