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MOÇAMBIQUE: "Entreguei tudo nas mãos de Deus"
São mais de mil famílias, mais de seis mil pessoas, na sua maioria cristãos. No campo de deslocados de Montepuez, em Cabo Delgado, todos têm, de alguma forma, histórias terríveis para contar, todos foram vítimas dos terroristas que estão a assustar a região norte de Moçambique. É o caso de Lúcia Matias, de 71 anos, que fugiu precipitadamente de Palma, com a família, quando a vila foi atacada no passado mês de Março. Foram dias de angústia, de medo, de completo horror. Lúcia vive hoje em Montepuez.
É apenas uma entre os mais de 850 mil deslocados de Cabo Delgado, pessoas que perderam tudo o que tinham desde que a região norte de Moçambique passou a ser palco de ataques terroristas. Foiem Outubro de 2017 que começaram esses ataques, num crescendo de violência até se ter chegado à barbárie dos corpos degolados, das aldeias queimadas, num desrespeito absoluto por tudo e todos.
Em muitos ataques, nada foi poupado. Nem as igrejas ou capelas, nem as casas dos padres e das religiosas. Nada. Foi do medo dessa barbárie que fugiram Lúcia e todos os que viviam com ela na vila de Palma em Março deste ano. No norte de Moçambique, os terroristas são conhecidos como os ‘al-shabaab’. Chegaram até Montepuez. Chegaram ao campo de deslocados.
CONFIAR EM DEUS
Uma das filhas de Lúcia Matias, Teresinha Bernardo, seguiu a vida religiosa e, por isso, não estava em Palma com a família, mas sim na cidade de Maputo na casa de formação das Filhas do Imaculado Coração de Maria.
Teresinha, 30 anos, a Ir. Teresinha, como é conhecida, andou todo aquele tempo, desde que lhe disseram que Palma estava a ser atacada pelos terroristas, num desassossego. Não sabia da família, não sabia onde estavam, como estavam. Não sabia sequer se estavam vivos.
“Tive um grande susto porque a minha família toda estava em Palma. Era de tarde, eu estava a voltar da escola quando alguém me telefonou a dizer que os terroristas tinham entrado na vila, mas eu não acreditei porque sempre havia esses boatos. Mas quando cheguei a casa, uma irmã recebeu [também] uma mensagem e isse que os terroristas tinham entrado em Palma… Peguei no telefone e liguei para toda a minha família, mas ninguém atendeu… Fiquei muito assustada”, contou à Fundação AIS.
Todas as irmãs se uniram a Teresinha numa mesma prece. Todas rezaram para que nenhum mal acontecesse à sua família, aos pais, irmãos, sobrinhos, tio. “Rezámos e dissemos que íamos entregar tudo nas mãos de Deus, que tudo seria possível e que a minha família se iria salvar. Foi quase um mês sem saber onde é que estavam, como é que eles estavam. Foi um mês muito triste, mas muito triste mesmo…”, recorda a Ir. Teresinha à Fundação AIS. Mais tarde, alguém lhes telefonou e disse que tinham sido avistados. E aí começaram a sentir algum consolo…
CASA COM O APOIO DA AIS
O Pe. Beato Cornélio Jaime, de 45 anos, vai com muita frequência ao campo de deslocados de Montepuez. Ele é um dos rostos da Igreja que não desiste enquanto houver necessidades por ali, enquanto houver famílias que precisem de ajuda. A história de Lúcia Matias e da sua família é em conhecida na Diocese de Pemba, também pelo facto de terem uma filha que seguiu a vida religiosa.
O Pe. Cornélio conhece também a odisseia por que passaram desde o dia do ataque até terem chegado a Montepuez. “Eles passaram dias e dias sem água, sem comida, a percorrer toda a mata. Saíram de Palma por causa da guerra. Deixaram tudo, perderam as suas coisas e lembro-me muito bem que, quando cá chegaram, não tinham pratos, não tinham panelas, não tinham nada, nem esteira nem roupa. Eles chegaram mesmo de mãos vazias…”
Começou aí a onda de solidariedade da Igreja universal para com aquelas vítimas do terrorismo em Moçambique. “Ajudámos as famílias na construção das casas. Por exemplo, estamos aqui, perante esta casa [da família de Lúcia Matias] que foi construída com o apoio da Fundação AIS. E nós estamos muito gratos por isso…”, lembra o Pe. Cornélio. Tem sido uma azáfama ajudar cada família a sobreviver com um mínimo de dignidade.
As campanhas de apoio psicossocial com que a Diocese de Pemba tenta auxiliar os que mais sofreram com os ataques dos terroristas são outro exemplo da proximidade da Fundação AIS unto da Igreja de Moçambique. Uma Igreja que chora com os que choram, que está presente junto dos que perderam o pouco que tinham por causa da barbárie que se instalou na região de Cabo Delgado.
A Ir. Teresinha voltou a sorrir. Desde que falou ao telefone com o pai, desde que este a sossegou dizendo que estavam vivos e bem, Teresinha voltou a ser a menina alegre que todos conheciam. A 19 de Dezembro fez a Profissão Perpétua. Foi o seu ‘sim’ definitivo a Deus. No campo de deslocados de Montepuez, também foi dia de festa.
> A família da Irmã Teresinha é uma das muitas famílias que a Fundação AIS apoia no campo de deslocados em Montepuez.
Esta é a nossa missão junto dos nossos irmãos em Moçambique… somos a mesma Igreja que chora com os que choram, que está presente junto dos que perderam o pouco que tinham e que se alegra com os seus sorrisos de agradecimento. E ‘obrigado’ é de facto a palavra que mais escutámos e que cada uma destas pessoas quer transmitir a todos os benfeitores da Fundação AIS: Kanimambo!
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