IGREJA NO MUNDO
ÍNDIA: O catequista de bicicleta
Viagem até à aldeia de Binia, no norte da Índia, ao encontro de Leos Tirkey
O catequista de bicicleta
O Papa Francisco instituiu o “ministério do catequista”, destacando o trabalho que milhares de homens e mulheres realizam em todo o mundo na transmissão e aprofundamento da fé. Leos Tirkey é um deles. Vive numa zona profundamente pobre no norte da Índia. Leos foi um dos mais de 18 mil catequistas apoiados pela Fundação AIS só no ano passado…
A casa onde mora diz quase tudo sobre a região. Na verdade, é apenas um casebre. A aldeia não é mais do que meia dúzia de habitações de paredes de barro e telhados de colmo. A meio da aldeia há um pequeno fontanário. Tem uma manivela para bombar a água. Todos os que moram em Binia fazem esse caminho várias vezes ao dia. A água do fontanário serve para tudo. Para beber, cozinhar, para os banhos. Para tudo. Leos Tirkey vive numa modesta casa com a mulher e três filhos. A vida é difícil para todos na aldeia. Leos é catequista. A sua vontade de servir a comunidade levou-o a assumir esta missão. É sempre com indisfarçável orgulho que prepara a bicicleta para se fazer ao caminho. A bicicleta é o seu luxo. O único luxo. Por ali, naquela região norte da Índia, a maior parte da população vive do trabalho agrícola. É por caminhos ásperos que Leos conduz a sua bicicleta, sinal de algum estatuto numa zona onde os campos parecem ter sido transformados em espelhos de água e onde se cultiva o arroz. Sempre que se faz ao caminho para dar “aulas de catequese”, como costuma dizer, Leos cruza-se com pessoas curvadas sobre os campos, quase imóveis, com as pernas dentro de água, num trabalho duro, rotineiro e que mal dá para sobreviver. “Dou aulas de catequese em três aldeias”, diz, antes de subir uma vez mais para a bicicleta. As aldeias não ficam muito longe. A mais distante está a apenas 15 km.
“As pessoas ficam contentes…”
“Quando vou às aldeias levo no meu saco a Bíblia, um livro de orações, um livro de cânticos, um terço e algumas mudas de roupa…” A bicicleta é a única companhia. Os caminhos são quase imperceptíveis. Ele conduz a bicicleta por imaginárias veredas, por vezes mesmo junto à borda dos campos de arroz, numa viagem sempre solitária. “Se tiver um furo no pneu, tenho de ir a pé, mas fico agradecido quando a bicicleta funciona…”
Quando chega às aldeias, alguém chama o povo batendo num pedaço de metal, como se fosse um improvisado sino. “As pessoas ficam sempre contentes por me ver…” Os cristãos reúnem-se em volta de Leos que estende em cima de uma mesa os seus livros e um crucifixo. “Ser catequista sempre me deu imensa alegria”, diz, reconhecendo que o seu trabalho é estimado por ali, apesar de os Cristãos serem uma das mais pequenas comunidades religiosas da Índia. As aulas de catequese de Leos Tirkey são essenciais. “Oriento as celebrações e os momentos de oração e preparo as pessoas para a Missa de Domingo. Preparo também as pessoas para a Comunhão, para a Confissão e para os outros sacramentos.”
Uma missão muito especial
É difícil imaginar como seria a vida da pequena comunidade cristã nesta região norte da Índia sem a generosidade de pessoas como Leos Tirkey. Na sua pobreza, ele consegue tirar o tempo necessário para ajudar famílias que estão empenhadas, como ele, em fazer um percurso de fé que por vezes é mesmo muito exigente. A começar pela desconfiança com que os Cristãos são olhados normalmente nas zonas rurais, mais pobres e iletradas. O serviço dos catequistas à Igreja ficou agora ainda mais sublinhado pelo Papa Francisco. Com a publicação de uma carta apostólica (Motu Proprio) em que institui o “ministério do catequista”, o Santo Padre reafirma a missão destes homens e mulheres como uma necessidade urgente para a evangelização do mundo contemporâneo. Leos Tirkey é apenas um dos 18.389 catequistas que a Fundação AIS apoiou durante o ano passado, nomeadamente para a aquisição de material didático para o trabalho pastoral e catequético, mas também através de cursos de formação e apoio para meios de transporte. O regresso de Leos a casa é sempre um tempo feliz. Se a bicicleta não tiver nenhum furo, a viagem até parece mais rápida. Além da Bíblia, do livro de orações, do terço e do crucifixo que transporta na sacola e que é a sua única bagagem, o catequista Leos traz sempre a memória de sorrisos, do afecto das pessoas e da certeza de que o seu trabalho é mesmo importante. “Dou a conhecer Deus às pessoas…” Haverá missão mais importante do que essa?
texto por Paulo Aido,
Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
(Voz da Verdade 23.05.2021)