CRISTIANISMO NA ETIÓPIA
A Etiópia, tristemente célebre pelas imagens da fome que passa a todo o mundo, é um país com mais de 75 milhões de habitantes, ao qual o Cristianismo chegou por volta do século IV. Mais tarde, no séc. VI, monges sírios difundiram o cristianismo por toda a Etiópia. Estes monges eram chamados os “Nove Santos”. Os missionários ortodoxos construíram muitas igrejas e mosteiros e traduziram a Bíblia para diversas línguas locais.
Na epopeia dos Descobrimentos, a Etiópia surge em destaque por força da lenda de Preste João, um soberano cristão que dominaria regiões até o território muçulmano, que correspondia ao Imperador da Etiópia. D. João II, em finais do século XV, mandou procurar Prestes para alcançarem uma aliança.
Em 2008, Bento XVI nomeou o cardeal Ivan Dias, prefeito da congregação para a evangelização dos povos, seu enviado especial nas celebrações para o novo milénio cristão na Etiópia (segundo o calendário etíope, em 2007 iniciou-se o segundo milénio), que tiveram lugar em Addis Abeba, por ocasião do congresso eucarístico nacional.
O Cristianismo glorioso, exótico e repleto de história é o orgulho do povo etíope, mas a sobrevivência da fé está em risco.
Uma complexa mistura de problemas, antigos e novos, ensombra o futuro de inúmeras comunidades cristãs.
Nalguns locais, os desafios são tão avassaladores que ameaçam eliminar a presença da Igreja, num lugar que a história exalta como o bastião do Cristianismo em África.
Apesar das muitas destruições verificadas no decurso das guerras cristãs-muçulmanas da primeira metade do século XVI, os dois milénios de história cristã da Etiópia são testemunhados por um imponente património de igrejas e mosteiros. Lalibela é mesmo considerada a Jerusalém etíope, com o seu complexo de igrejas, em que se destaca Bet Giorgis, com o seu tecto achatado em forma de cruz grega na superfície de rocha em que foi escavada.
A Constituição de 1995 reconhece a secularidade do Estado (Artigo 11º) e a liberdade religiosa (Artigo 27º). As organizações religiosas são obrigadas a registar-se junto do Ministério da Justiça a cada três anos, submetendo cada uma, uma cópia dos seus estatutos e o curriculum vitae do líder da organização.
São permitidas as escolas particulares geridas por grupos religiosos mas é proibido proporcionar instrução religiosa dentro do horário escolar. Os muçulmanos, até há alguns anos uma minoria em comparação com os cristãos ortodoxos, são agora quase tantos como estes e em algumas áreas são já uma maioria clara, especialmente no Leste e no Sudeste do país.
Nos últimos anos, o conflito entre estas duas comunidades aumentou, e mais ainda entre os muçulmanos e os cristãos evangélicos e pentecostais (grupos que estão em crescimento rápido), e os incidentes e confrontos mais graves têm-se tornado mais frequentes e mais violentos, causando muitos mortos.
Os cristãos da Etiópia podem descobrir a sua história na própria Bíblia (Actos dos Apóstolos 8, 26 ss.). Quando o diácono Filipe, partiu de Jerusalém para Gaza, encontrou “um etíope, eunuco e alto funcionário da rainha Candace, da Etiópia, e superintendente de todos os seus tesouros”. No séc. IV, a Etiópia declarou o Cristianismo religião oficial, tendo sido o segundo país a fazê-lo. Actualmente, a maioria dos cristãos na região são ortodoxos eritreus ou ortodoxos etíopes, uma Igreja Copta.
AIS APOIA OS CRISTÃOS DA ETIÓPIA
Na Etiópia surgiram novas oportunidades para a comunidade cristã, com sinais de que finalmente o país está a começar a acordar do pesadelo da fome, das doenças e da opressão que durou décadas.
A Ajuda à Igreja que Sofre destinou, em 2008, mais de 620 mil Euros para o país, incluindo o auxílio para os muitos habitantes da Eritreia que ali se refugiaram, em dois campos. A esse respeito, a associação católica internacional sublinha a necessidade de contar com meios de transporte para levar alimentos, através das montanhas, para estes campos.
Na nova Diocese de Emdibir, numa das regiões mais pobres da Etiópia, o Bispo Musie Gebreghiorghis refere à AIS que estão a começar do nada: “Temos de construir passo a passo e confiar em Deus. Obrigado por tudo o que fazem por nós, é incrível”.
Para o Arcebispo de Adis Abeba, Berhaneyesus Souraphiel, o país vive um “momento crítico”. Líder de uma Diocese do tamanho do Uganda, o Arcebispo enfrenta o desafio das seitas, que ameaçam a pequena comunidade católica, e o crescimento de um Islão fundamentalista.
Apesar da sua pequena dimensão, a Igreja Católica tem um papel vital na educação e na saúde, em especial na luta contra o analfabetismo e a difusão do HIV/Sida.
Os pedidos de auxílio que chegam à AIS referem-se, em particular, ao apoio a padres em áreas atingidas pela pobreza, à construção de igrejas e à formação de seminaristas, religiosas e catequistas.
Um elevado número de jovens desejam entregar a sua vida a Cristo e a AIS prometeu apoiar os seminaristas, as religiosas, os catequistas e outros leigos, a fim de os preparar para o serviço na Igreja.
Capelas, igrejas, centros pastorais, conventos e mosteiros estão a ser construídos com o apoio da AIS.
D. Berhaneyesus admite que “é muito difícil obter a ajuda de que precisamos”, pelo que a AIS assume um papel fundamental na ajuda a esta Igreja histórica e em crescimento.
Na recém-criada Diocese de Emdibir, numa das regiões mais pobres da Etiópia, D. Musie Gebreghiorghis contou à AIS: “Começámos do zero, mas estamos a avançar. Temos de construir passo a passo e confiar em Deus. Obrigada por tudo o que estão a fazer por nós. É espantoso!”
Ele e muitos outros precisam desesperadamente da ajuda da AIS.
O MOMENTO DECISIVO DA HISTÓRIA
“Este é um momento crítico na história da Etiópia”.
O Arcebispo Berhaneyesus Souraphiel de Adis Abeba fala com muita abertura. Como responsável de uma diocese do tamanho do Uganda, centrada na capital etíope, o arcebispo está encarregue de orientar a Igreja num tempo de grandes desafios.
Uma Igreja cuja herança na Etiópia remonta ao século IV enfrenta actualmente numerosas seitas, sendo muitas delas cristãs apenas de nome, que estão a forçar o povo a converter-se.
Outro problema sério é a opressão que persiste, mais de quinze anos após a queda do regime comunista Derg da Etiópia.
Mas o mais preocupante a longo prazo é o crescimento do Islão militante, que está a penetrar no país pelo Leste, principalmente pela Somália.
Os católicos da Etiópia, que não chegam a um milhão, constituem apenas 1% da população total.
Superfície 1.104.300 km2
População 75.070.000
Refugiados 85.183
Desalojados 200.000
Cristãos 57,7 %
Muçulmanos 30,4 %
Animistas 11,7 %
Outros 0,2 %
Cristãos 43.315.390
Católicos Baptizados 586.000
Mas o papel vital da Igreja na área da educação e da saúde significa que os líderes católicos constituem uma voz importante para o povo, dando apoio vital no combate à iliteracia e à Sida.
Assim, os bispos dirigiram-se à AIS pedindo ajuda para proporcionar à Igreja um novo recomeço no início deste novo milénio (a Igreja Etíope rege-se pelo calendário Juliano, com sete anos de diferença do seu equivalente no Ocidente, o calendário Gregoriano).
Entretanto, com o aumento vertiginoso do número de novos católicos, os bispos têm enviado à AIS sucessivos pedidos de ajuda, apoio para sacerdotes em áreas afectadas pela pobreza, construção de igrejas e formação para o crescente número de seminaristas, religiosas e catequistas. E a lista continua.
Sublinhando a urgência da situação, o Arcebispo Berhaneyesus de Adis Abeba afirmou: “É muito difícil recebermos a ajuda que pedimos e é por essa razão que a AIS é tão importante. Neste momento o essencial é o apoio a uma Igreja em crescimento. A quem podemos dirigir-nos senão a vós?”
AS PEDRAS ANGULARES DA FÉ NOVA
“É aqui. Não imaginam como estamos felizes!”
Ao olhar para um monte de pedras toscas num cenário árido e ressequido pelo sol, é difícil partilhar do entusiasmo do sacerdote.
Mas à medida que se escuta a história das pessoas para quem aquelas pedras tanto significam, não podemos deixar de nos comover.
O sacerdote, Abba Gobezayehu, explicou como é que Teferi, de 24 anos, um colaborador da Igreja, tinha chegado a esta aldeia, perto da cidade etíope de Meki e consertado o poço, pondo fim a meses de desespero para o povo afectado pela seca.
Quando descobriram que Teferi era catequista, começaram a aprender com ele, decidindo mais tarde entrar na Igreja em massa, num total de 500 pessoas. Providenciaram um terreno, construíram uma cerca e juntaram algumas pedras para construir a igreja. Entretanto, reúnem-se para a catequese à sombra de uma árvore.
Abba Gobezayehu afirmou: “Muitas pessoas pediram para ser baptizadas, mas nós informámos que primeiro tinham de ter aulas de catequese. Dizem-nos que não podem esperar, tal é o seu desejo.”
À sombra da árvore onde aprendem o catecismo, Lemme Kerbu, de 15 anos, disse-nos: “Não temos uma igreja onde rezar. Estamos tão felizes só de imaginar que talvez tenhamos uma em breve!”
D. Abraham Desta contou que há pessoas de toda a Diocese de Meki que querem entrar na Igreja. “Precisamos da vossa ajuda e apoio. As pessoas querem a nossa presença e que partilhemos a Boa Nova sobre Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. Nós temos de fazer tudo o que pudermos.”
É este tipo de projecto que constitui uma prioridade para a AIS na Etiópia.
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