
Um pouco por toda a Ucrânia, mosteiros e casas de religiosas têm sido transformados em lugares de abrigo para os refugiados de guerra. Mesmo mosteiros contemplativos. As irmãs abrem as portas das suas casas partilhando o que têm com quem chega, tantas vezes de mãos vazias e em lágrimas… “É assim que vemos a nossa missão agora”, diz uma religiosa beneditina.
Acolher quem precisa é também um sinal de Deus no meio do inferno da guerra.
> A FUNDAÇÃO AIS ESTÁ A APOIAR DIRECTAMENTE 1.350 RELIGIOSAS QUE AJUDAM MILHARES DE FAMÍLIAS NA UCRÂNIA. PODEM CONTAR CONSIGO?

São inúmeros os casos de comunidades religiosas femininas que abriram as portas dos seus mosteiros aos refugiados de guerra na Ucrânia. É o caso das Beneditinas de Solonka. Estas religiosas contemplativas privaram-se do silêncio e da solidão do mosteiro, para acolherem pessoas que fugiram por causa dos combates, da violência da guerra. Desde que começou a invasão das tropas russas, a 24 de Fevereiro, mais de 500 pessoas já passaram pelos claustros das Irmãs de Solonka, na região de Lviv. “É assim que vemos a nossa missão agora”, diz a Irmã Klara.
“Actualmente, o mosteiro acolhe acima de tudo aqueles que não tencionam ir para o estrangeiro, e algumas destas pessoas nem têm um lar para onde regressar”, explica a religiosa beneditina. Não são apenas pessoas comuns que viram as suas vidas transtornadas por causa da guerra. Também algumas comunidades religiosas tiveram de se fazer à estrada, engrossando o número de refugiados.

As Irmãs de Zhytomyr também foram acolhidas em Solonka, depois de terem estado abrigadas numa cave na catedral local durante os constantes bombardeamentos que atingiram a região.
Brincar numa cela
Voltemos a Solonka. Com a guerra tudo mudou. A calma e o silêncio do mosteiro contemplativo foram substituídos pela agitação própria de um ajuntamento de pessoas. São todos refugiados de guerra. Como a Irmã Klara explicou a Maria Lozano, da Fundação AIS, a vida no mosteiro passou a ter outras rotinas, outras prioridades. As irmãs procuraram envolver toda a gente nas tarefas diárias, seja a limpeza do mosteiro ou a confecção das refeições. Nada foi deixado ao acaso. Uma das celas, por exemplo, foi transformada numa sala de recreio para que as crianças possam estar entretidas.
Também na Arquidiocese de Lviv, as Irmãs de São José abriram as portas da congregação para acolherem os que por ali têm passado, fugindo dos horrores da guerra.
“Há pessoas a dormir em todos os cantos do mosteiro, tanto nas camas como no chão, sobre colchões. Estão todos muito gratos pela oportunidade de se poderem lavar, de terem comida quente e de conseguirem descansar um pouco”, explica a Irmã Tobiasza.
“Algumas destas pessoas passaram vários dias em caves ou em abrigos antiaéreos”, acrescenta a religiosa, como que a justificar a urgência do acolhimento que tem sido dispensado a quem se apresenta à porta a pedir ajuda.
“Ajudamos os refugiados e os moradores que estão em situações mais difíceis devido à guerra”, diz ainda a religiosa. As Irmãs de São José não se limitaram a abrir as portas de sua casa para todos os que tiveram de fugir. Fizeram mais. Muito mais. Além de ajudarem estas famílias – muitas vezes são apenas mães e filhos, pois os homens estão mobilizados para o esforço de guerra –, as irmãs procuram também estabelecer pontes, especialmente na Polónia, com famílias de acolhimento disponíveis para receberem estes refugiados.
O caos depois dos mísseis
Outra casa das Irmãs de São José, mas na cidade de Stryi, também abriu as suas portas neste grande abraço de entreajuda da Igreja aos que fogem da guerra. “As irmãs prepararam um quarto para acolher uma família de duas crianças e uma avó. Com a ajuda de benfeitores locais e estrangeiros, elas conseguiram comprar uma máquina de lavar roupa, um frigorífico, camas, e assim por diante. Todos os bens básicos para se poder viver. Um dos rapazes está doente e precisa de cuidados e comida especial”, explica a Irmã Tobiaszca. Todos os que batem à porta das irmãs trazem consigo histórias pesadas, difíceis, memórias que perdurarão provavelmente para sempre.
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É o caso de Roman e de Anna que, com os dois filhos, um menino de 7 anos e um bebé de apenas 1 mês de idade, se fizeram ao caminho chegando a Lviv, ao mosteiro das Beneditinas de Slonka. Vieram de Kharkiv. Ainda aguentaram 10 dias até que a situação se tornou intolerável e demasiado perigosa, especialmente para as crianças. Pouco antes de partirem, numa altura em que já tinham as malas feitas e tudo, caiu um míssil no prédio onde viviam.
“A casa incendiou-se, todas as janelas explodiram...” recorda Roman à Fundação AIS. Foi o caos. O fumo, as pessoas a correrem na rua em todas as direcções, todos com medo de novas explosões, todos com medo de novos bombardeamentos. |
Providência Divina
É o caso de Roman e de Anna que, com os dois filhos, um menino de 7 anos e um bebé de apenas 1 mês de idade (na foto acima), se fizeram ao caminho chegando a Lviv, ao mosteiro das Beneditinas de Solonka. Vieram de Kharkiv. Ainda aguentaram 10 dias até que a situação se tornou intolerável e demasiado perigosa, especialmente para as crianças. Pouco antes de partirem, numa altura em que já tinham as malas feitas e tudo, caiu um míssil no prédio onde viviam. “A casa incendiou-se, todas as janelas explodiram...” recorda Roman à Fundação AIS. Foi o caos. O fumo, as pessoas a correrem na rua em todas as direcções, em pânico. Roman e Anna decidiram que tinham mesmo de partir. Conseguiram apanhar uma boleia para a casa da mãe de um amigo, mas também por lá houve bombardeamentos.
“Foi horrível. Não conseguíamos dormir e as crianças estavam a ficar nervosas”, conta Roman, explicando que apanharam então um comboio para Lviv com outros. Chegaram a uma cidade em ebulição. Não havia lugar para mais ninguém. Na prim ira noite, Anna e as crianças conseguiram dormir no chão, numa casa de abrigo para mães e filhos, mas a situação era insustentável. Foi então que a Ir. Hieronima, que por acaso passava por ali, lhes indicou o mosteiro das Beneditinas de Solonka.
“Recordaremos sempre esse momento, e estaremos gratos para o resto das nossas vidas”, diz Anna, explicando que, para si, o encontro casual com a irmã “foi a Providência Divina, foi um sinal de Deus…”.
E é precisamente o amor de Deus que estas religiosas procuram transmitir, para além da ajuda de emergência que dão. Todos os dias, no seu momento de oração, convidam também os residentes a rezar juntos. A maioria deles não são crentes, mas por vezes também vão rezar.
“Pela primeira vez na nossa nova igreja, realizou-se um casamento de um casal de Zhytomyr, durante a celebração da Anunciação. E outro casal de Kharkiv prepara-se para receber os sacramentos da Reconciliação, Casamento e Baptismo do seu filho. Várias pessoas confessaram-se pela primeira vez. É ssim que a nossa comunidade de irmãs e irmãos lê os sinais dos tempos, e é assim que agora realizamos o nosso ministério.” No outro convento das irmãs em Krysowice, perto do posto fronteiriço, as irmãs também cuidam dos refugiados, deixando-os passar a noite e providenciando-lhes cuidados médicos. Acolhem também médicos e outros voluntários da Polónia que vêm à Ucrânia para ajudar.
Estes são apenas alguns dos milhares de deslocados que perderam tudo e continuam a depender da nossa ajuda!
A Fundação AIS apoia directamente a subsistência de 144 irmãs em Lviv. Todas elas são um sinal de Deus num país em guerra.
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